Temperos também não fazem minha cabeça. Minha especialidade culinária é o miojo. No vacilo, sempre deixo a embalagem do tempero cair na água quente. Pra não dar o braço a torcer, finjo que não foi nada e resgato o náufrago sachê do oceano escaldante com a ponta dos dedos. Um pouco por preguiça de pegar a ferramenta apropriada, um pouco para me punir pelo vacilo recorrente. Depois, como o miojo sem tempero. Por preguiça, pra me punir, pra mim, tanto faz.
E o afeto? Ah, o afeto… Desde eu gosto! Apesar de meu cérebro mandar frequentes mensagens sinalizando que está tudo bem, que o número de pessoas que gostam de mim é maior do que mereço, sempre me parece pequena a quantidade de afeto que gerei. Fico olhando os caras que sabem sorrir na hora certa, abraçar do jeito certo, dizer o que todos esperam ouvir e… putz, este coraçãozinho gostaria de fazer miojo sem se queimar. Ao menos uma vez. Falta sabedoria.
Afinal, como se mede o afeto? Como sair desta sinuca de bico? Pintei o chão da sala e fiquei preso no canto? Como se mede o afeto, os cheiros e os temperos?
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